domingo, 27 de abril de 2008

A Tampa do Depósito e Outras Coisas que Fazem Rogar Pragas

Aqui há tempos tive que comprar um carro para poder ir e vir do trabalho. Não é uma bomba e até é mais velho que a minha carta de condução mas serve para a viagem que tenho que fazer.

Quando o comprei e o vendedor me passou as chaves para a mão lá me mostrou as funcionalidades básicas, como é que ligava os limpa-vidros, os piscas, meter em marcha-atrás, etcetera e tal. Mas faltou uma coisa fulcral que me fez perder um bom bocado de tempo. Como tirar o #!)&0!! da tampa do depósito de combustível!

Parece básico, eu sei. Hoje em dia, os carros têm todos sistemas automáticos para abrir as portas mas este é um Opel Corsa da altura em que eu ia para a escola de autocarro. Não há nada de sistemas de fecho automático nem nada disso. Para abrir o carro, é preciso meter a chave na fechadura. Se me tivessem dito no dia antes “Epá, tirar aquela merda pra poder atestar o depósito, foda-se! Puta que pariu aquela merda!”, eu teria respondido com algo do género “Tu és mas é tolo, pá. Não pode ser assim tão complicado!”

Mas pode. E é. Passo a recontar a história de um Sábado menos que típico.

Eu e o Jan tínhamos assuntos a resolver na loja do cidadão aqui da zona e eu já tinha o depósito do carro na penúria, de modo que, depois de alegremente entregar mais dinheiro ao Estado para ele me poder identificar por meio de um número de série e as impressões digitais, fomos à BP atestar o automóvel.

Parámos ao pé de uma bomba, saímos do carro, abri a portinha do depósito e toca a rodar aquilo para a esquerda. Um minuto depois e aquilo ainda não dava sinais de estar a sair do sítio.

OK, isto tem uma ranhura para meter a chave, tenho uma chavezinha que veio com a chave da ignição, dois mais dois são meter a chave na tampa e rodar para a esquerda.

*Clique!*

Vitória?! Não. Agora não rodava nem para um lado, nem para o outro. A não ser que a tampa tenha sido projectada para ser aberta apenas por gorilas, ainda não a tinha aberto.

E agora? Toca a meter a chave lá dentro outra vez e a rodar para a direita.

*Clique!*

Ah! Agora já roda! E roda. E roda… Olhei para o Jan, ele olhou para mim… Rodar, rodar, rodar…

Meto outra vez a chave e rodo outra vez. Mais um característico *Clique!* e mais uma vez a tampa sem rodar, seja para um lado, seja para o outro.

Neste ponto, a minha capacidade de manter uma postura calma e impassível começa a vacilar.

“Foda-se! Puta que pariu esta merda mais o filho da puta do cabrão que o fez!”

Tradução: “Estou a ficar deveras fulo com esta situação e preciso de extravasar o meu descontentamento verbalmente.”

A partir deste ponto, comecei a alternar entre rodar a tampa durante minutos a fio, tentar arrancar a tampa à força e a pensar para mim que se Deus existe, ele é cruel e está a rir-se de mim, de modo que vou matá-lo assim que atestar o depósito.

Eis que o Jan tenta a sua sorte. Mais do mesmo mas sem as pragas e os desejos homicidas (digo eu).

Passado um bocado, apeteceu-me desistir e ir a um sítio onde há quem é pago para fazer o que eu estava ali a tentar fazer de graça. Então engoli o orgulho e pedi ajuda a um gajo que estava ali perto a beber uma cerveja.

Frustração é ver alguém fazer à primeira o que nós não fomos capazes de fazer, nem à décima tentativa. Pois bem, lá perguntei ao homem como é que ele fez. Fechou o depósito e voltou a tentar. Desta vez só conseguiu à terceira tentativa.

Foi o Jan (sempre ele, não é?) que percebeu como funciona o mecanismo. É que quando a tampa roda livremente, está trancada e esse é o detalhe que impede que outros tentem forçar a entrada. Quando se abre a tampa temos de ter a certeza de que a chave está na vertical quando dá o tão afamado “Clique!” senão nem com os braços do Popeye se chega lá.

É bem, vou meter mais €20 no depósito que a semana de trabalho está à porta. Só espero que o tal gajo ainda lá esteja…

sábado, 19 de abril de 2008

Eufemicídio

Porque hoje me apeteceu finalmente falar de línguas e coisas afins.

magritte-the-lovers

René Magritte - Les Amants

Eufemismo:

do Grego euphemismós (ευφημισμος) 1 > eu (ευ), bem + pheme (φήμη), discurso / fala



Trata-se portanto do "acto de suavizar a expressão de uma ideia, substituindo a palavra própria por outra mais agradável, mais polida", segundo diz o nosso amigo dicionário Priberam. Por outras palavras, é florear uma expressão de modo a minorar a sua crueza, dureza, frieza (e outras coizesas) e torná-la mais bonitinha.


O problema é que as palavras, não obstante todo o poder que têm, não alteram a realidade. Assim, não só não se torna nada mais bonito (porque realidades feias não se compadecem com figuras de estilo) como se confunde o interlocutor com uma expressão ambígua, confusa e que transmite a ideia de que se está a esconder algo atrás das costas.


A ideia inicial por trás do eufemismo era evitar usar palavras que

a) por terem associadas figuras poderosas não deveriam ser proferidas abertamente. Daí que os Gregos (sempre eles, sempre eles...), quando se queriam referir ao deus Hades (senhor do sub-mundo), dissessem Plutous 2, significando riqueza - já que os minerais vêm das profundezas da Terra.

b) causem atentados ao pudor. As crianças aprendem a "fazer cocó" e "dar tau-tau", não a defecar e dar uma carga de porrada, rspectivamente.


A situação que me irrita é o uso abusivo e estupidificante desta figura de estilo. Nos últimos anos, e em grande parte devido aos políticos e à comunicação social, circulam livremente expressões que, longe da sua função inicial de suavizar conteúdos ásperos, são simplesmente... Bom, estúpidas.


Devido a esta corrida ao pó-de-arroz linguístico hoje já não se pode morrer de cancro, apenas de doença prolongada; tão-pouco há guerras e refugiados - o Mundo de hoje apenas padece de males menores como conflitos armados e deslocados.

Uma empresa não despede trabalhadores, faz downsizings que afectam os seus colaboradores; não se fazem noitadas no trabalho, hoje são overtimes, tão mais agradáveis na sua assepcia anglo-saxónica.

As crianças já não são evidentemente mal-criadas (que saudades desta expressão!); hoje dissimulamos má educação com hiperactividade e défice de atenção (que, sendo doenças reais, são usadas como panaceia vocabular para desculpar tudo o que é canalha mal-criada).

Já não se pode ser cego nem surdo, é obrigatório ser invisual e deficiente auditivo - noblesse oblige.

E esta última expressão deve ter os dias contados, visto que nas nossas escolas desapareceram as crianças com deficiência, transformando-se em belas crianças com necessidades educativas especiais. E com elas foi-se a profissão de contínuo, substituída pelos moderníssimos auxiliares de acção educativa.


À falta de bom remate para este texto que já vai longo, fica isto, que tanto me apetece dizer a todos esses cirurgiões plásticos da língua: eufemizem-mos!


1) Ou algo assim. Tenho demasiada preguiça para ir rever o alfabeto grego por isso vai de memória. :P

2) Ρλυτους? Ρλωτοως? Enfim, vou parar de gastar tempo com pormenores que tenho o Anti-Vilão a fazer piscar violentamente a janela do Messenger a implorar-me para irmos comer.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Directamente do business "cubicle"

Este post não é mais do que um desabafo em relação a todas as entidades que publicitam "coisas de merda" usando nomes pomposos. Eu e o Jan estamos a escrever este texto no apregoado business centre do hotel Real Parque em Lisboa. Ora bem, business centre soa a algo pomposo, não? Puro engano! Isto trata-se de um "business cubicle" de 2 PCs, sendo que apenas 1 está ligado. A área é de 5 m2 e mal cá cabem duas cadeiras.

Desenganem-se os que pensavam que isto é um espaço chique, com altos LCDs, sofás em pele, poufs coloridos e mesinhas de conferência com comes e bebes.

Por 70 aurélios/noite poderão usufruir deste requinte todo. Em alternativa, poderão pagar 6 oiros/hora por acesso wireless nos quartos.

Enfim...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Amor e ódio!

Este título bem podia ser o de uma novela da TVI, mas não é:P Pelo menos ainda!

Apeteceu-me fazer um post rápido porque hoje depois de jantar e em conversa com o meu colega de caserna tive uma epifania!!!

Ora costuma dizer-se que o amor e o ódio andam de mãos dadas e que a fronteira que os separa é muito ténue.
Ao dizer isto o meu colega de caserna referiu que essa mesma fronteira é feita a pontapé. Eu retorqui que a fronteira se anula e desaparece com sexo à bruta.

Portanto, a minha brilhante conclusão é esta: fazer com que todas as mulheres me odeiem!

Ou então se calhar o melhor é ganhar juízo...pois é capaz de ser melhor.