Aqui há tempos tive que comprar um carro para poder ir e vir do trabalho. Não é uma bomba e até é mais velho que a minha carta de condução mas serve para a viagem que tenho que fazer.
Quando o comprei e o vendedor me passou as chaves para a mão lá me mostrou as funcionalidades básicas, como é que ligava os limpa-vidros, os piscas, meter em marcha-atrás, etcetera e tal. Mas faltou uma coisa fulcral que me fez perder um bom bocado de tempo. Como tirar o #!)&0!! da tampa do depósito de combustível!
Parece básico, eu sei. Hoje em dia, os carros têm todos sistemas automáticos para abrir as portas mas este é um Opel Corsa da altura em que eu ia para a escola de autocarro. Não há nada de sistemas de fecho automático nem nada disso. Para abrir o carro, é preciso meter a chave na fechadura. Se me tivessem dito no dia antes “Epá, tirar aquela merda pra poder atestar o depósito, foda-se! Puta que pariu aquela merda!”, eu teria respondido com algo do género “Tu és mas é tolo, pá. Não pode ser assim tão complicado!”
Mas pode. E é. Passo a recontar a história de um Sábado menos que típico.
Eu e o Jan tínhamos assuntos a resolver na loja do cidadão aqui da zona e eu já tinha o depósito do carro na penúria, de modo que, depois de alegremente entregar mais dinheiro ao Estado para ele me poder identificar por meio de um número de série e as impressões digitais, fomos à BP atestar o automóvel.
Parámos ao pé de uma bomba, saímos do carro, abri a portinha do depósito e toca a rodar aquilo para a esquerda. Um minuto depois e aquilo ainda não dava sinais de estar a sair do sítio.
OK, isto tem uma ranhura para meter a chave, tenho uma chavezinha que veio com a chave da ignição, dois mais dois são meter a chave na tampa e rodar para a esquerda.
*Clique!*
Vitória?! Não. Agora não rodava nem para um lado, nem para o outro. A não ser que a tampa tenha sido projectada para ser aberta apenas por gorilas, ainda não a tinha aberto.
E agora? Toca a meter a chave lá dentro outra vez e a rodar para a direita.
*Clique!*
Ah! Agora já roda! E roda. E roda… Olhei para o Jan, ele olhou para mim… Rodar, rodar, rodar…
Neste ponto, a minha capacidade de manter uma postura calma e impassível começa a vacilar.
“Foda-se! Puta que pariu esta merda mais o filho da puta do cabrão que o fez!”
Tradução: “Estou a ficar deveras fulo com esta situação e preciso de extravasar o meu descontentamento verbalmente.”
A partir deste ponto, comecei a alternar entre rodar a tampa durante minutos a fio, tentar arrancar a tampa à força e a pensar para mim que se Deus existe, ele é cruel e está a rir-se de mim, de modo que vou matá-lo assim que atestar o depósito.
Eis que o Jan tenta a sua sorte. Mais do mesmo mas sem as pragas e os desejos homicidas (digo eu).
Passado um bocado, apeteceu-me desistir e ir a um sítio onde há quem é pago para fazer o que eu estava ali a tentar fazer de graça. Então engoli o orgulho e pedi ajuda a um gajo que estava ali perto a beber uma cerveja.
Frustração é ver alguém fazer à primeira o que nós não fomos capazes de fazer, nem à décima tentativa. Pois bem, lá perguntei ao homem como é que ele fez. Fechou o depósito e voltou a tentar. Desta vez só conseguiu à terceira tentativa.
Foi o Jan (sempre ele, não é?) que percebeu como funciona o mecanismo. É que quando a tampa roda livremente, está trancada e esse é o detalhe que impede que outros tentem forçar a entrada. Quando se abre a tampa temos de ter a certeza de que a chave está na vertical quando dá o tão afamado “Clique!” senão nem com os braços do Popeye se chega lá.
É bem, vou meter mais €20 no depósito que a semana de trabalho está à porta. Só espero que o tal gajo ainda lá esteja…